Resolução SE N.º 18, de 02 de março de 2007

 

Dispõe sobre diretrizes e procedimentos para implantação do Projeto Bolsa Escola Pública e Universidade na Alfabetização

 

A Secretária de Estado da Educação, à vista das disposições do Decreto nº 51.627 de 01 de março de 2007 que instituiu o Programa Bolsa Formação Escola Pública e Universidade e considerando que:

o primeiro ano da escolaridade obrigatória tem um papel decisivo na vida dos alunos;

os institutos de pesquisa e avaliação educacional indicam que os alunos que chegam ao final da 1ª série já alfabetizados tendem a ter maior sucesso nas aprendizagens do Ciclo;

as oportunidades oferecidas aos alunos das Instituições de Ensino Superior para que possam vivenciar, em parceria com os professores da rede pública estadual, em sistema de colaboração, a prática de uma escola real, ampliando o significado da teoria que vem estudando no meio acadêmico;

resolve:

Artigo 1º - Fica instituído o Projeto Bolsa Escola Pública e Universidade na Alfabetização nas escolas da rede pública estadual da cidade de São Paulo com os objetivos de:

I- possibilitar o desenvolvimento de conhecimentos e experiências necessários aos futuros profissionais de educação sobre a natureza da função docente no processo de alfabetização dos alunos da 1ª série do Ciclo I;

II- apoiar os professores da 1ª série do Ciclo I na complexa ação pedagógica de garantir a aprendizagem da leitura e escrita a todos os alunos ao final do ano letivo.

Artigo 2º - A Secretaria da Educação firmará convênio com Instituições de Ensino Superior ou por meio de entidades a elas vinculadas, que sejam incumbidas regimental ou estatutariamente das atividades do ensino, para a proposição e execução de projetos pedagógicos a serem desenvolvidos por alunos com supervisão de professores universitários, nas classes e no horário regular de aula da 1ª série do Ciclo I do Ensino Fundamental, nas escolas da rede estadual de ensino sediadas na cidade de São Paulo.

§ 1º - Poderão inscrever-se para o Projeto as Instituições de Ensino Superior - IES sediadas na Região Metropolitana de São Paulo, que possuam cursos de Pedagogia, com habilitação de magistério de 1ª a 4ª série; Normal Superior, com habilitação de magistério de 1ª a 4ª série; Letras, com habilitação para o magistério e alunos de pós-graduação, cursando disciplinas da área pedagógica voltadas para metodologia de ensino.

§ 2º - Os projetos, como metodologia participativa, deverão ser apresentados pelas IES parceiras, em Plano de Trabalho, contendo:

I- Orientações para o trabalho dos alunos pesquisadores, formas de acompanhamento, formação e avaliação, conforme expectativas de competências acadêmicas contidas em Anexo que integra esta resolução;

II- Quantidade inicial de classes/turmas para o desenvolvimento do projeto;

III- Planilha de custos, que demonstre a previsão da aplicação dos recursos a serem repassados pela Secretaria da Educação;

IV- Dados cadastrais da Instituição.

Art. 3º - A Comissão Técnica para análise dos Projetos apresentados pelas Instituições de Ensino Superior será designada pela Secretária de Estado da Educação.

Art. 4º - Caberá à Secretaria Estadual de Educação, por meio da Fundação para o Desenvolvimento da Educação - FDE:

I - repassar os valores estipulados mediante a aferição do controle feito pelas IES da freqüência dos alunos pesquisadores nas atividades de cada projeto;

II - acompanhar e avaliar os projetos desenvolvidos pelas IES parceiras;

III - promover debates, seminários para divulgação de resultados, troca de experiências, avaliação entre os parceiros do projeto;

IV - divulgar, juntamente com as IES, conteúdos significativos produzidos pela parceria.

Art. 5º - Caberá às Instituições de Ensino Superior:

I - Indicar professores orientadores que serão responsáveis pela construção e acompanhamento dos projetos e pelas atividades dos alunos/pesquisadores;

II - Indicar um aluno regularmente matriculado e freqüente, para atuar em cada classe da 1ª série do Ciclo I, de acordo com o número de vagas solicitadas e conforme lista de escolha de vagas oferecidas pela Secretaria da Educação;

III - Controlar a freqüência dos alunos e substituí-los quando a freqüência nas atividades de pesquisa for inferior a 80% no mês;

IV - Garantir que o aluno que se desligue do curso durante o projeto seja substituído;

V - Enviar relatórios mensais com a freqüência dos alunos pesquisadores de cada uma das turmas/classes;

VI - Apresentar relatórios, quando solicitado pela Secretaria da Educação, sobre a implementação do Projeto e acompanhamento e avaliação dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos;

VII - Participar de reuniões junto à Secretaria da Educação, quando solicitado.

Art. 6º - Caberá ao aluno pesquisador, em comum acordo com o professor regente da classe e sob a supervisão de seu professor orientador da Instituição de Ensino Superior:

I - Participar da elaboração de diagnósticos pedagógicos de alunos;

II - Planejar atividades complementares de leitura e escrita para os alunos;

III - Executar atividades didáticas para indivíduos ou grupo de alunos;

IV - Participar das reuniões com orientadores das IES, sempre que convocado.

§ 1º - O aluno pesquisador deverá realizar 4(quatro) horas diárias de atividades na classe/turma da 1ª série do Ciclo I do Ensino Fundamental.

§ 2º - A compensação das horas correspondentes ao período do recesso escolar de julho será efetivada pelos alunos pesquisadores durante o período letivo, participando de reuniões pedagógicas e de formação dos professores da 1ª série que acontecerem na unidade de ensino ou na diretoria de ensino.

Art. 7º - em 2007 serão oferecidas 3.260 vagas em classes/ turmas da 1ª série do Ciclo I do Ensino Fundamental, nas escolas da rede pública estadual sediadas na cidade de São Paulo.

Art. 8º - As vagas de que trata o artigo anterior serão distribuídas entre as IES selecionadas de acordo com os seguintes critérios:

Aprovação do Plano de Trabalho com as orientações expressas nesta resolução.

I - Análise do Projeto Pedagógico de formação de professores da IES.

Matriz ou grade Curricular de formação do curso superior que contemple disciplinas e/ou Programas voltados para alfabetização.

Art. 9º - Os projetos deverão ser desenvolvidos a partir de 02/04/2007 até o dia 31/12/2007, incluindo o mês de julho.

Art. 10 - Será repassada para as instituições selecionadas a quantia mensal de R$ 500,00 (quinhentos reais) para cada turma/classe de sua responsabilidade no projeto, conforme segue:

§ 1º - Os valores correspondem ao período entre o 1º dia do mês e o último, devendo o repasse ser proporcional ao efetivo período de execução do convênio.

§ 2º - Os repasses destinam-se ao pagamento de bolsa auxílio aos alunos pesquisadores, retribuição aos professores orientadores do projeto, encargos legais e demais despesas indicadas no Plano de Trabalho pela IES habilitada, desde que aprovado pela Secretaria da Educação.

Art. 11 - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.

 

Nota:

Decreto N.º 51.627/07, à pág. 206 do vol. LXIII;

 

ANEXO

 

Expectativas de competências acadêmicas de alunos pesquisadores do Bolsa Escola Pública & Universidade na Alfabetização.

Tendo em vista os objetivos da parceria oferecida às instituições de ensino superior, a Secretaria Estadual de Educação explicita suas expectativas em relação aos conteúdos e estratégias básicas que os futuros alunos/pesquisadores devam ter aprendido ou necessitam aprender em seus cursos de graduação para poderem desempenhar com sucesso a função de pesquisadores associados em pesquisa participativa nas 1ªs séries do Ensino Fundamental.

Contribuem para o desenvolvimento desses saberes, as disciplinas: Prática de Ensino Fundamental, Metodologia do Ensino Fundamental, Metodologia da Alfabetização, Didática Geral, Didática da Alfabetização e outras de nomenclaturas afins, desde que preservem semelhança de conteúdos.

É desejável que essas disciplinas tenham sido ou estejam sendo desenvolvidas, com carga horária mínima de 60 horas semestrais e em dois semestres letivos.

As referidas disciplinas devem tratar ou terem tratado, entre outros, dos processos de ensino e de aprendizagem da leitura e da escrita durante o período de alfabetização e, também, dos fundamentos didáticos voltados às necessidades de aprendizagem dos alunos.

Para que os alunos/pesquisadores participem do processo pedagógico nas escolas - requisito básico da pesquisa participativa - é importante que possam ter assegurado o direito de aprender esses conteúdos que, a nosso ver, são imprescindíveis a todos os professores alfabetizadores.

As atribuições dos alunos envolvidos pressupõe habilitação para o trabalho completo de alfabetização em todas as suas fases e disposição para buscar alternativas que complementem o trabalho desenvolvido pelo professor de suas salas de estágios, com a supervisão de seus professores na faculdade.

A natureza da pesquisa é qualitativa - participativa.

Sugestão de programa de capacitação

Como sugestão, disponibilizamos às Instituições interessadas, um programa de capacitação com especificação das unidades de estudos que correspondem às expectativas mínimas de formação dos futuros alunos/pesquisadores.

1. Análise do registro escrito como recurso de formação profissional e desenvolvimento pessoal.

2. Breve histórico do processo de alfabetização:

 As mudanças nas concepções de ensino e aprendizagem da leitura e da escrita, através da contextualização histórica das práticas de alfabetização neste século, no mundo ocidental;

Concepção de ensino por resolução de problemas;

Concepção de aprendizagem construtivista.

3. Hipóteses acerca do desenvolvimento da escrita.

Hipótese de escrita pré-silábica - compreensão de que há atos inteligentes por trás das estranhas escritas dos alunos que não sabem ler e escrever;

Hipótese de escrita silábica, silábico-alfabética e alfabética;

Análise de escritas não-convencionais - observação investigativa das produções escritas dos alunos, para que encontrem elementos que lhes permitam compreender o momento de aprendizagem de cada um;

Compreensão das possibilidades de intervenção do professor em uma situação diagnóstica;

Implicações pedagógicas dos conteúdos estudados.

4. Hipóteses acerca do desenvolvimento da leitura.

Hipóteses de crianças não-leitoras sobre o que está escrito e o que se pode ler;

Evolução das hipóteses infantis de leitura;

Análise das hipóteses infantis de leitura.

5. Processos envolvidos no ato de ler.

Como se dá o processo de leitura e quais são as estratégias usadas pelo leitor;

Os procedimentos de leitura e suas relações com os conhecimentos prévios, familiaridade com os gêneros e o uso.

6. Alfabetização a partir de situações essenciais de leitura e escrita (nomes, listas e textos que sabemos de cor).

a importância desses textos no processo de alfabetização;

Situações de aprendizagem que envolve o ensino da leitura e da escrita com esses gêneros textuais;

Planejamento de situações de aprendizagem;

Possibilidades de intervenção do professor na realização das situações de aprendizagem.

7. Aprender a linguagem que se escreve

a capacidade dos alunos produzirem textos antes de saber escrever e ler convencionalmente;

Práticas sociais de leitura e escrita dentro e fora da escola;

Definição de ambiente alfabetizador;

Conhecimento e procedimentos necessários para organizar uma rotina de trabalho com atividades permanentes de leitura e escrita para alfabetizar - criando um ambiente alfabetizador;

a leitura, as atividades de reescrita e de reconto como meios para se aprender a linguagem que se escreve.

8. A heterogeneidade na sala de aula

o trabalho pedagógico, considerando as diferenças de saberes dos alunos;

Relações entre o conhecimento das hipóteses de escrita e a intervenção pedagógica do professor.

9. Metodologia de projetos para o ensino de leitura e escrita.

a concepção de trabalho com projetos didáticos de leitura e escrita;

a relevância do projeto para potencializar o esforço envolvido no ato de aprender.

 

Sugestão de Bibliografia

CURTO, Lluís Maruny; MORILLO, Maribel M. & TEIXIDÓ, Manuel M. Escrever e ler - Volume I e II. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 2000.

LERNER, Delia & PIZANI, Alicia Palácios. A aprendizagem da língua escrita na escola - reflexões sobre a proposta pedagógica construtivista. Porto Alegre: Artmed, 1995.

FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, A. e PALÁCIO, M. G. Os processos de leitura e escrita: novas perspectivas. Porto Alegre: ARTMED, 1987

FERREIRO, Emília & TEBEROSKY, Ana. A psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.

––, Emília. Alfabetização em processo. São Paulo: Editora Cortez, 1989.

FERREIRO, E. (org.). Os filhos do analfabetismo. Porto Alegre: ARTMED, 1990

–––––. com todas as letras. São Paulo: Editora Cortez,1992.

–––––. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Editora Cortez,1985.

KAUFMAN, Ana Maria; CASTEDO, Mirta; TERUGGI. Lilia & MOLINARI, Claudia. Alfabetização de crianças: construção e intercâmbio. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

KAUFMAN, Ana Maria & RODRÍGUEZ, Maria Helena. Escola. leitura e produção de textos. Porto Alegre: Artes Médicas,

KLEIMAN, Ângela. Os significados do letramento. Campinas: Mercado da Letras, 1995.

PALACIOS, Alicia de Pizani; PIMENTEL, Magaly Munhoz& LERNER, Delia de Zunino. Compreensão da leitura e expressão escrita. A experiência pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 1998.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS - Introdução. Brasília: MEC/SEF, 1997.

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS - Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997.

Piaget, J, Seis Estudos de Psicologia, Forense - 1967.

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES. Brasília: MEC/SEF, 2001

REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL. Brasília: MEC/SEF, 1997.

REFERENCIAIS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES - Brasília: MEC/SEF, 1999.

SMITH, Frank. Leitura significativa. Porto Alegre: Artes Médicas.

SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. Porto Alegre: Editora Artes Médicas,

TEBEROSKY, Ana. Aprendendo a escrever. São Paulo: Editora Ática, 1994.

TEBEROSKY, Ana. Psicopedagogia da Linguagem Escrita. São Paulo, Unicamp/Trajetória Cultural,

TOLCHINSKY, Liliana & TEBEROSKY, Ana. Além da alfabetização. São Paulo: Editora Ática, 1996.

TOLCHINSKY, Liliana. Aprendizagem da Linguagem Escrita - processos evolutivos e implicações didáticas. São Paulo: Editora Ática, 1995.

ZABALA, Antoni. A Prática Educativa - Como ensinar. Porto Alegre: Artmed,

WEISZ, Telma. O Diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo: Ática, 1999.